mardi 19 octobre 2010

Texto da curadora Paula Borghi sobre Renata Egreja.

Retornar às origens. Depois de quatro anos estudando artes visuais na École des Beaux-Arts de Paris, França, Renata Egreja, 26 anos, regressa ao Brasil. Contudo, Renata não retorna apenas à sua origem no sentido geográfico, suas pinturas retomam a origem da história da arte, da escrita e da vida.

As pinturas apresentadas para o projeto “Temporadas de Projetos” do Paço das Artes, é um pequeno recorte de sua produção nestes últimos anos, período em que a artista viajou e conviveu com pessoas de diversas nacionalidades e pode desfrutar novas experiências. Assim, Renata constrói suas inspirações e referências baseando-se tanto na cultura de seu próprio país, como na daqueles que visitou.

Dois signos que a acompanham desde sua ida ao Oriente Médio são a “mão de Fátima” e o “terceiro olho”. A “mão de Fátima” é um talismã com a aparência de uma palma da mão com cinco dedos estendidos, usado por praticantes do judaísmo e do islamismo como um amuleto contra o mau-olhado. Tanto a “mão de Fátima” como o “terceiro olho” surgem na pintura de Renata como uma proteção e ao mesmo tempo como um adorno. A artista não nega o objeto, pelo contrario, ela o inclui na pintura em forma de colagem, como se a pintura vestisse tanto a “mão de Fátima” como o “terceiro olho”.

Outro signo também muito presente em suas pinturas é a letra U, que surge em meio as pinturas como um indício a origem da escrita e ao mesmo tempo como um exercício de grafia ou até mesmo um desenho. A letra U, enquanto desenho, pode formar uma padronagem através de seu acumulo, remetendo à imagem de um bordado. Além disso, sua leitura suscita uma sonoridade onomatopéica, que pode ser compreendida tanto como uma vaia ou como uma forma de representar um sentimento voluntário em resposta a uma emoção. Portanto, quando Renata pinta sucessivamente a imagem deste U, pode-se dizer que ela retoma a origem da palavra e tudo aquilo que esta pode dar origem; desde um desenho até a idéia de um som.

No trabalho de Renata Egreja pode-se também notar referencias a história da arte, como formas geométricas das vanguardas russas e algumas imagens iconográficas. A artista se apropria de signos, como o quadrado de Maliévitch e a caveira Vanita. Contudo, não se tratam de signos fieis a realidade, mas sim de releituras destes signos feitas por Renata, de uma tradução pessoal com as característica da artista. Desta forma, tem-se um quadrado purpurinado, de cores vibrantes e até mesmo uma caveira verde limão.

Outro assunto que acompanha a artista em sua trajetória é o carnaval. Renata já trabalhou com o carnaval e é carnavalesca. Se algumas de suas pinturas são compostas por purpurina, tinta, gliter e alegria, pode-se dizer que sua vida segue a mesma marchinha. O trabalho de Renata Egreja é vivo, tem energia, vontade e coragem.

Paula Borghi

São Paulo, 1986

Bacharel em Artes Plásticas pela FAAP, atualmente faz residência em pesquisa na Casa Tomada e concorre ao projeto Novos Curadores. Em setembro de 2010 foi curadora da exposição individual da artista Renata Egreja Trabalhou como assistente do galerista e fotógrafo Eduardo Brandão na Galeria Vermelho, como estagiária da curadoria no Centro Cultural São Paulo – CCSP e como assistente da curadora Ana Paula Cohen, no projeto Istmo – Arquivo flexível.

Eu tenho medo da morte, essa condição me perturba muito. Eu quero engajar toda uma energia de vida no meu trabalho, essa energia vital que me faz amar a vida, quero passar uma mensagem de otimismo e de amor.

Eu trabalho com a consciência do corpo, do movimento, da respiração e da dança com o objetivo de construir uma superfície.

Eu trago para minhas pinturas cores que povoaram minha infância, formas naturais para mim, exuberantes, uma luz clara que me faz pensar no sol tropical, minha pintura é cheia de energia vital e é isso que eu pretendo dividir com as pessoas. A pintura tem um poder transformador, de fazer a tristeza virar beleza e alegria.

Eu acredito que temos que ter consciência do que vamos jogar no mundo, eu quero espalhar cor e luz. Eu posso dizer que me divirto com meu trabalho, eu faço tentativas, eu nao tenho medo de apagar o que foi feito antes, as coisas passam…

O trabalho é uma aventura onde nada é programado, cada quadro é uma surpresa do cotidiano, é a pintura que vem ate mim, naturalmente, eu apago, eu mudo, eu conservo certas coisas, as coisas passam…

Uma coisa é certa, precisa sempre ser uma festa. Um enorme paradoxo mora na idéia de festa, é a vontade de agarrar a felicidade pelos cabelos, e violentamente!

Hoje em dia a festa é sacramentada, nao tem nada mais belo que morrer numa festa. É o drama no seu nível mais alto!! Para mim a pintura representa esse drama, de morrer numa festa gigante.

Renata Egreja, Junho de 2010.